Direito de Família na Mídia
Casamento gay na África do Sul é conquista para brancos
06/09/2010 Fonte: Jornal O TempoCIDADE DO CABO, África do Sul. Em 2006, a África do Sul foi o primeiro país do hemisfério sul a legalizar os casamentos de pessoas do mesmo sexo - desde o mês passado, a Argentina também permite essas cerimônias. Mais de 3.000 casais do mesmo sexo já se uniram na África do Sul, sendo que aproximadamente metade deles inclui pelo menos um estrangeiro, relata o governo. Segundo defensores dos direitos dos gays, a lei que permite o casamento de pessoas do mesmo sexo começou a abrir caminho para uma tolerância maior à homossexualidade. Os casamentos revigoraram as empresas ligadas à "indústria do matrimônio".
"O Apartheid eliminou a tolerância, mas, assim que ele acabou, nossa sociedade avançou rápido e a maioria das pessoas agora rema a favor da maré", disse Daniel Brits, ministro secular da Cidade do Cabo que afirma ter realizado mais de 500 cerimônias de casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A maioria dos casamentos na Cidade do Cabo acontece na Table Mountain, ponto turístico marcante da cidade, e em hotéis como o 12 Apostles, resort localizado em um penhasco acima do mar onde pessoas como as britânicas Arianne McClellan e sua noiva, ambas policiais de Londres, disseram o "sim" no fim de 2009.
Direitos. As proteções legais na África do Sul contrastam com o sentimento antigay demonstrado recentemente em outros lugares da África, seja no julgamento de um casal gay em Malawi ou na proposta legislativa de Uganda para tornar a homossexualidade um crime capital em alguns casos. Entretanto, mesmo com os defensores dos direitos humanos elogiando a abertura legal do país e os lucros do turismo nupcial do mesmo sexo, eles advertem que a lei, como muitas promessas e situações de prosperidade na nova África do Sul, não chegou a todos os cidadãos do país, especialmente a maioria negra.
Anthony Manion, diretor da organização Memória dos Gays e Lésbicas em Ação, disse que a lei não conseguiu beneficiar os negros que moram em favelas pobres perto de municípios como Cidade do Cabo e Johanesburgo. Nesses locais, os gays e lésbicas geralmente enfrentam discriminação e violência. Defensores dos direitos humanos dizem que um número crescente de lésbicas foi vítima dos chamados "estupros corretivos", que supostamente têm a intenção de "consertar" a orientação sexual delas.
"A grande maioria das pessoas gays na África do Sul ainda não pode se casar com o parceiro que quiser devido à profunda desigualdade econômica, isolamento social e exclusão cultural", disse Manion. "A preocupação com bolos de casamento e arranjos de flores tira o foco de desafios mais sérios".
Desigualdade social. Melanie Judge, autora de "To Have & To Hold: The Making of Same-Sex Marriage in South Africa" (Ter e Manter: A Preparação do Casamento entre Pessoas do Mesmo Sexo na África do Sul), acusa a classe média branca sul-africana de ignorar seus irmãos negros na corrida ao altar. "O casamento é uma mercadoria que foi rotulada e embalada", disse ela. "A lei não conseguirá chegar às profundezas do preconceito se o casamento gay continuar ignorando nosso trauma coletivo em favor de roupas, maquiagem e luas de mel".
Outros dizem que a mudança nas favelas socialmente conservadoras levará tempo e destacam uma mudança de atitude entre os africâneres - minoria branca que no passado impôs o Apartheid sobre o país - e entre a população de pessoas com pais de raças diferentes, que é conhecida como "coloureds".